Histórias surpreendentes sobre edifícios históricos portugueses
Histórias surpreendentes sobre edifícios históricos portugueses
Hoje celebra-se o Dia Internacional dos Museus e por isso para assinalar esta data, reunimos algumas histórias surpreendentes sobre edifícios com história um pouco por todo o Portugal. O nosso país é um dos mais ricos a nível arquitetónico, mas ao longo destes anos têm-se vindo a tomar boas e más decisões no que toca à construção ou demolição de prédios. Este é o primeiro de dois artigos que contam as estórias e curiosidades por trás destes lugares com história e, muitos deles, valor patrimonial e arquitetónico.
Uma demolição que já dura há 21 anos
Viana do Castelo: Prédio Coutinho
As críticas à construção do Prédio Coutinho, o edifício de 13 andares situado em pleno centro histórico de Viana do Castelo, começaram logo no início da década de 70, altura da construção do imóvel. Em 1972, a Câmara Municipal de Viana do Castelo (CMVC) vendia em hasta pública parte do terreno onde existia o antigo mercado municipal. O negócio foi fechado por Fernando Coutinho pela importância de 7500 contos, o que corresponde sensivelmente a 37 410€.
No ano seguinte, o proprietário apresenta à CMVC e em março o projeto acabou por ser aprovado, mas em junho do mesmo ano é criada uma portaria governamental que estabelece a Zona Arqueológica de Viana do Castelo e da qual faz parte o terreno do antigo mercado municipal. O diploma assume que todos os projetos para aquela zona necessitam de aprovação da Direcção-Geral dos Assuntos Culturais (DGAC).
Assim, em março de 1974, a DGAC veio afirmar que a obra foi realizada sem “autorização superior”. O primeiro pedido de demolição do Prédio Coutinho é feito já depois da revolução, em 1975, com a autarquia a considerar a sua construção “o maior atentado à harmonia” da cidade. Mas é em 2000 que o pedido oficial chega, com a apresentação do Programa Polis de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental de Viana do Castelo que prevê a demolição do edifício. Segue-se uma luta judicial entre os moradores e a sociedade VianaPolis que durou 21 anos.
Acabou por chegar ao fim no passado mês de abril, “As pessoas estão a desmobilizar. Algumas já entregaram as chaves, outras pediram mais algum tempo para conseguirem retirar o resto da mobília, mas tanto quanto sabemos, em termos de pessoas, já está desocupado. Já não viverá lá ninguém”, disse Tiago Delgado, administrador executivo da sociedade VianaPolis em declarações ao JN.
O início das obras de demolição do Prédio Coutinho está previsto para setembro ou outubro deste ano.
Atentados a Azulejos
Lisboa
Desde 2017 que vigora a lei que interdita a demolição de fachadas azulejadas e bem como a remoção de azulejos das mesmas, que foi aprovada na sequência de uma proposta do ‘SOS Azulejo’. E é precisamente este movimento que em 2012 dava conta de dois “atentados” cometidos contra a fachada de dois edifícios habitacionais situados na zona da Estefânia em Lisboa. O primeiro caso diz respeito a um prédio situado na Rua Pascoal de Melo, que hoje alberga um Hotel. De acordo com o ‘SOS Azulejo’ a fachada de azulejos do século XIX foi pintada com tinta branca “numa lógica decorativa simplista, devastadora e sem qualquer travejamento teórico”, lê-se no site.
A segunda situação denunciada atenta ao caso de um prédio na Rua Cidade da Horta que foi alvo da remoção total dos azulejos que compunham a fachada e que se encontravam em estado degradado. O movimento caracteriza este ato como “uma amputação drástica, dolorosa, leviana e sobretudo desnecessária”.
O nome ficou, o edifício não
Lisboa: Cinema Monumental
É um dos edifícios mais emblemáticos de Lisboa, mas a verdade é que nem sempre teve a aparência espelhada que conhecemos nos dias de hoje. Desde 1951, altura em que foi inaugurado o Cinema Monumental na Praça Duque de Saldanha, o local já sofreu várias transformações. E a mais recente está a acontecer neste momento, com a modernização do Monumental para que se torne mais eficiente e sustentável. O edifício inicialmente foi projetado pelo arquiteto Raúl Rodrigues Lima, já acolheu um cine-teatro, um centro comercial e agora será ocupado em 80% pelo Banco BPI.
Quanto à construção original, inseria-se na estética modernista que marcou algumas das obras públicas do Estado Novo. A sala de cinema e a sala de teatro albergavam mais de 1000 espectadores cada. De acordo com o Instituto Camões, a decoração requintada “apresentava lustres imponentes, maples requintados, grandes escadarias, mármores e apontamentos dourados”. Ao longo dos seus anos no ativo foram feitas melhorias, como a adição de uma sala de cinema de dimensões reduzidas construída no último piso do prédio. Apesar da popularidade e grandiosidade do Monumental, o edifício original viria a ser demolido em meados de 1984 por ordem do executivo camarário liderado por Nuno Krus Abecasis.
O nome ficou, mas no mesmo lugar foi erigido um edifício muito diferente do original, com janelas espelhadas e uma dimensão muito maior, passando a albergar lojas, escritórios e quatro salas de cinema. Atualmente e como já referimos, o Monumental está de novo a passar por obras de requalificação e prevê-se que fique com a aparência que se vê na foto acima.
Porto: Palácio de Cristal
Apesar de ainda ser conhecido como Palácio de Cristal, a verdade é que o edifício original foi demolido em 1952 para dar lugar ao Pavilhão dos Desportos, que surgia então para albergar o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins. Era o fim de uma era: ao longo dos seus 86 anos de existência o verdadeiro Palácio de Cristal acolheu várias exposições.
Construído com o objetivo de acolher a Exposição Internacional do Porto, que teve a participação de mais de 4.300 expositores de 25 países, o espaço inaugurado em 1865 contou com a presença de ilustres personalidades da sociedade portuguesa como o Rei D. Luís, D. Maria Pia e o Príncipe Carlos. O auge do Palácio de Cristal deu-se em 1934, quando recebeu a Exposição Colonial do Porto que, de acordo com o Blog Portualities, “tinha como objetivo reconhecer o Estado Novo como um regime moderno num Portugal Imperial”.
A beleza da construção inspirada no Crystal Palace em Londres não chegou para a manter viva. Nos belos Jardins que acolhiam o edifício, hoje existe apenas a nave de betão em forma de “OVNI” que é conhecida por todos como Pavilhão Rosa Mota ou simplesmente por Palácio de Cristal, em honra da memória do edifício que em tempos foi um importante polo da cultura da cidade do Porto.
Também conhecido como ‘O Consultor’. Pode encontrá-lo a consultar o último estudo de mercado. Não tem talento para vender, mas sabe tudo sobre Imobiliário. Fala sobre questões relacionadas com o tema no Blog do Imovirtual.
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